quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um dia desses...

Hoje saio de casa para um passeio, e não mais voltarei aos entes meus. Eu saio para libertar-me desse corpo que insiste em prender-me, limitar-me, esconder-me, maltratar-me. E vou perambulando em meio a tudo e a todos, olhando para todas as direções sem sequer conseguir enxergar algo que me force a ficar, a voltar aos meus. Vem então a angústia do meu existir querendo, exacerbadamente, tirar-me de dentro de mim, levar-me a esse passeio que tanto pensei. Por um minuto, ela rememorou em meus pensamentos o filme da vida, fazendo-me sentir um completo patético, bestializado com tanta futilidade que meu corpo se prestou a fazer. As tremendas idéias dantescas, nessa altura, já eram notórias, e a vontade de deixar-me ser levado era ainda maior... E de repente, tudo fica branco, nada mais é inteligível, visível, risível. Acreditava ter medo só da escuridão, mas ver a brancura feito a neve em minha fronte foi de arrepiar-me. Neste momento, imaginei que o meu pensamento se concretizou – livrar-me de mim -, estaria eu metafisicamente transfigurado, habitando aquele lugar que quase todos acreditam ir após o seu passeio eterno? Pobre ilusão, com um olhar mais aguçado, dei por conta de que a alvidez era das nuvens cobrindo completamente o céu e eu ainda aqui, neste mundo de loucos, preso, torturado e agora com o pensamento não realizado. Não contente, continuei os passos para tentar concluir o passeio, porém não adiantou. Dois ou três passos depois, assustado, encontrei novamente aquilo que não tinha perdido, embora naquele momento, não queria eu ter encontrado. Era minha casa. Daí, entrei, fui ao quarto e de frente ao espelho chorei as lágrimas da dor de um sonho não realizado. Até para ir e não mais voltar eu não presto. Frustrado, agora idealizo qual será o novo dia de uma nova despedida. Idealizo quando conseguirei exaurir-me dessa massa metamorfosicamente ambulante e retornar à plenitude de um ser impalpável, intangível, ilimitado, livre, aberto, complexo: o nada.

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