quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Tema: A fluidez do tempo


Vivemos a aurora deste século em que o tempo se tornou a principal medida quantificadora do cotidiano popular. Daí, “tempo é dinheiro”; “tudo é tempo e tempo é nada”. Chronos, personificação divina intitulada - Tempo – pela mitologia grega, “bagunça” freqüentemente a vida de todos que vivem em função dele. Seja na cronometragem de viagens, seja a duração de um ano, um milênio, minutar o tempo assumi seus conceitos relativísticos quando defrontados com a quebra de recordes, visto que um milésimo de segundo pode custar o ouro ou a prata. À luz do filósofo Santo Agostinho, o presente-passado é diferente para cada um.
Na física, podemos retratar o princípio da incerteza de Heisenberg que consta na aceleração de uma partícula negativa de maneira que sua velocidade atinja tamanha proporção de modo ao elétron sumir de uma determinada posição e assumir outra no mesmo intervalo de tempo. Conclusão: a carga negativa encontra-se em dois locais diferentes em tempos iguais. Pelas equações de Albert Einstein, tempo e espaço são padrões relativos, dependendo de cada referencial e cada momento, como enunciou, pela filosofia, Agostinho.
O denominado Efeito Borboleta traz a relação sistemática da interligação de todos os eventos antropocêntricos e não-antropocêntricos durante o curso da vida. Paralelar sobre esse efeito e a vontade do homem de alterar, em algum aspecto, seu passado pode levá-lo a uma série de conseqüências, mudando seu presente e também o futuro. Algo, ainda, inimaginável para se fazer.
Filme – O curioso caso de Benjamin Button -, livro – Memórias Póstumas de Brás Cubas – trazem a ideologia dos acontecimentos na ordem cronológica inversa. O fluir do tempo esconde seus mistérios e desperta a curiosidade humana para aprender a manipulá-lo. Poder acelerar, desacelerar, voltar e até mesmo parar essa contagem é muito sonhada. Basta ver que cada nova geração deve conter tudo mais veloz que a passada: a quebra de marcas registradas, o automóvel mais rápido, viagens ligeiras. E como dizer que o tempo é nada? O tempo é tudo, e para aqueles que sabem aproveitar, o tempo também é dinheiro.
É notório que a linearidade do tempo mostra-se essencial ao unidirecionismo dos fatos. Alterá-lo implicará na desorganização do sistema complexista. Devemos nos atentar piamente a “Chronus”, não o do relógio, mas o da vida. Pois ele passa vorazmente fluindo e sempre carrega tudo consigo, girando a roda viva da imaginação.

Até quando dura o sempre?


Conversando a altas horas com aquela que diz gostar dos meus textos, lancei a ela o meu próprio desafio: escrever sobre qualquer assunto que ela quisesse ler em meus versos. Eu, pensando que viria um tema fácil, tive um ledo engano. Para Sempre, essa foi a proposta escolhida por essa moça. Surpreso e com o gozo de tentar me superar cada vez mais no universo das letras, aceitei instantaneamente. Assumo que não sei falar do para sempre, mas buscarei no viés dos meus pensamentos e sentimentos externar sobre.
É difícil se falar e acreditar no para sempre, tendo a completa certeza de que somos findos. Nossa natureza carnal é finita, memoremos a morte. Há quem diga que até depois dela se ama, gosta, vive uma aventura transcendental. Bom, quanto a isso eu não sei, pois obviamente nunca morri e também não faço a menor idéia de como esses pseudo-discursores afirmam tamanha tolice. Entretanto, tendo uma visão complexa e racional, o para sempre pode ser visto não de maneira eterna, mas de modo sincero de expressão de ideologias, afinidades, amizades, amores e sentimentos outros. Parafraseando Vinicius de Morais, que seja Para Sempre enquanto dure. Daí, o “quanto dure” é muito relativo. Não depende apenas de um ou dois fatores, são aglomerados de situações que definirá a durabilidade do Sempre. Quando cito “de modo sincero”, é para não dar vazão àquelas pessoas que se aproveitam de palavras para conseguir/conquistar certos objetivos. Esses são ludibriadores, capazes de mexer com os sentimentos, virar as costas e dar adeus.
Tornamo-nos, pois, reféns do imediatismo, do achismo. Queremos cada vez mais viver o hoje já pensando no amanhã, no depois de amanhã, no para sempre. Apegamo-nos às pessoas, aos objetos, aos sentimentos de maneira que esquecemos nossa natureza humana e assumimos metafisicamente a nossa natureza sentimental, que nos faz passear pelas veredas do universo enquanto vivos. Queremos hoje, queremos agora, já e esquecemo-nos de enxergar valores, defeitos, birras. Achamos estar tudo bem, fechamos os nossos olhos para não querer enxergar nada. Pois assim é mais fácil, foi desse modo que nos ensinaram. Apenas esqueceram-se de falar que esse foi o ensinamento do sofrer. Fixamo-nos muitas vezes a certas pessoas e, por vezes, esquecemos que elas são simples pessoas, ou que não é Aquela pessoa que tanto imaginou. Então, sem dúvida, o para sempre virará o até logo. Devemos aprender a viver não o para sempre eterno, como já afirmara, mas viver o para sempre do hoje. No dia, 24 horas é a meta do teu sempre, deixe que no outro dia seja a nova meta e assim sucessivamente. Logo, a cada dia terás vivido um para sempre e quando menos esperar, esse para sempre pode levar muito tempo. Não o sempre do corpo, porque acaba, mas o sempre na memória de todos os que vêem e ficam eternizados com o sentimento e a aproximação construídos aos poucos, solidificando cada degrau da base, tornando-a forte e resistente a tudo. Aproveite o momento atual, como diria Scarlet: “o amanhã é outro dia” - o amanhã é para os acontecimentos e as preocupações do amanhã, viva o agora -. Há também, segundo a bíblia, o dizer de Jesus: “Deixe que os mortos enterrem seus mortos” - o que é passado, deixa no passado. Viva o agora -.
Liberte-se do ontem e do amanhã, viva vertiginosamente o dia de hoje. Não sabemos quando é o nosso fim material, muito menos o do outro. Se não aproveitar Este momento, amanhã poderá ser tarde demais, quem sabe até impossível. Quando passado o imediatismo, e enxergar o concretismo no outro – quando digo concretismo, é de ter conhecido as reais características dele – se ainda assim este te despertar um belo sentimento, uma boa sensação de prazer e satisfação, Esse sim será o para sempre. Sabe por quê? Porque mesmo que tudo um dia venha a acabar, por motivos outros que não a morte, sempre deixará ótimas marcas em você. Sempre te deixará lembranças maravilhosas, sempre deixará desejos. E por mais que surja outro, sempre o para sempre será lembrado. Busque, agarre aquilo/aquele que lhe faz bem, pois também estarás bem.
Se o para sempre é mesmo para sempre, referindo ao sentimentalismo, eu ainda também não vivi para saber, mas tenho toda vontade de entender e aprender sobre o amar para sempre, sobre o até sempre.


Erlei Morbeck
2009-09-03

Um dia desses...

Hoje saio de casa para um passeio, e não mais voltarei aos entes meus. Eu saio para libertar-me desse corpo que insiste em prender-me, limitar-me, esconder-me, maltratar-me. E vou perambulando em meio a tudo e a todos, olhando para todas as direções sem sequer conseguir enxergar algo que me force a ficar, a voltar aos meus. Vem então a angústia do meu existir querendo, exacerbadamente, tirar-me de dentro de mim, levar-me a esse passeio que tanto pensei. Por um minuto, ela rememorou em meus pensamentos o filme da vida, fazendo-me sentir um completo patético, bestializado com tanta futilidade que meu corpo se prestou a fazer. As tremendas idéias dantescas, nessa altura, já eram notórias, e a vontade de deixar-me ser levado era ainda maior... E de repente, tudo fica branco, nada mais é inteligível, visível, risível. Acreditava ter medo só da escuridão, mas ver a brancura feito a neve em minha fronte foi de arrepiar-me. Neste momento, imaginei que o meu pensamento se concretizou – livrar-me de mim -, estaria eu metafisicamente transfigurado, habitando aquele lugar que quase todos acreditam ir após o seu passeio eterno? Pobre ilusão, com um olhar mais aguçado, dei por conta de que a alvidez era das nuvens cobrindo completamente o céu e eu ainda aqui, neste mundo de loucos, preso, torturado e agora com o pensamento não realizado. Não contente, continuei os passos para tentar concluir o passeio, porém não adiantou. Dois ou três passos depois, assustado, encontrei novamente aquilo que não tinha perdido, embora naquele momento, não queria eu ter encontrado. Era minha casa. Daí, entrei, fui ao quarto e de frente ao espelho chorei as lágrimas da dor de um sonho não realizado. Até para ir e não mais voltar eu não presto. Frustrado, agora idealizo qual será o novo dia de uma nova despedida. Idealizo quando conseguirei exaurir-me dessa massa metamorfosicamente ambulante e retornar à plenitude de um ser impalpável, intangível, ilimitado, livre, aberto, complexo: o nada.

Quem sou eu?

Ora eu sou o nada, ora o tudo.
Ora sou o vazio, ora o cheio.
E afinal, quem sou?
- O nada? Tudo.
- O tudo? Nada.
(Erlei Morbeck)